Diálogo de escritores marginais
QUANDO LIMA BARRETO ENCONTRA JOÃO DO RIO
A peça "Diários Marginais" encena agora, às 19 horas, no penúltimo dia da Feira Internacional de Paraty, os diálogos póstumos entre dois fundamentais escritores brasileiros das ruas e dos subúrbios do Rio de Janeiro. Já no fim da vida, desgastado pela pobreza, pela doença e pela dificuldade de conquistar um lugar no cenário excludente e racista da literatura nacional, Lima Barreto, vivido pelo ator Gilson Gomes, recebe em seus delírios psíquicos a visita do irreverente João do Rio, vivido por Wagner Brandi.
Nesse encontro, ocorre o acerto de contas sobre a coerência de cada um, a conversa sobre a loucura, o futebol, o carnaval, a destruição dos lugares históricos do Rio pela modernidade, as relações entre o escritor brasileiro e a marginalização social.
De um lado, a pobreza, a falta de reconhecimento e a persistência da literatura de Lima contra a opressão dos brasileiros e contra o desprezo da cultura popular. De outro, a fluidez erudito-popular de João do Rio pelo território da marginalidade e o trânsito pelo poder. Juntos, os dois autores e personagens da literatura, ambos fora do padrão dominante, percebem que são mais semelhantes do que pensavam, na discriminação pela loucura da arte, a homossexualidade de um, a embriaguez de outro, a origem negra de ambos.
A peça, encenada agora no Colégio Estadual Moura Brasil (CEMBRA), em Paraty, comemora os 20 anos da Oráculo Companhia de teatro do Rio de Janeiro, com direção de Luiz Furlanetto. Seguirá em circuito nos próximos meses pela capital e subúrbios cariocas.
Raquel Wandelli, de Paraty para o Jornalistas Livres
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