Na foto Wagner Brandi, Amir Adad e
Gilson Gomes
Arquivo pessoal
Foi uma
grande alegria quando Simon Khoury nos convidou para falarmos algumas palavras
sobre Amir Adad. Principalmente porque estamos prestes a fazer vinte e cinco
anos da Oráculo Cia de teatro e de resistência cultural. Certamente Amir é um
dos maiores artistas desse país. Um homem que é fonte de inspiração para muitos
artistas, assim como é para nós. Ao criarmos o grupo Oráculo Cia de Teatro,
tendo como fundadores Gilson Gomes, Wagner Brandi e Neila Tavares, também
seguimos o princípio de
coletividade. Quando Amir fala só precisamos ouví-lo e aprender com o mestre,
pois é um homem de tanta clareza e sabedoria que nos impressiona. A sua clareza
vai além do teatro, é grandioso quando fala sobre a vida, sobre a política,
sobre o ser humano. Com toda certeza ele é um diretor cobiçado por muitos
atores, e feliz daqueles que conseguiram estar sobre sua batuta. Realiza um
trabalho muito importante com o seu grupo Tá
na Rua. É incrível a disponibilidade dos atores com o trabalho. É mágico.
Aliás, a sua magia como diretor é comprovada quando é convidado para dirigir
outros espetáculos e é nítido perceber os detalhes da sua direção ao vermos o
ator em cena, as cenas são minuciosamente estudadas. Ele é um homem essencialmente de teatro. Ainda
não tivemos o prazer de ser dirigido por Amir, o que queremos muito que se
realize. O curioso é que já produzimos e dirigimos espetáculos com quase
oitenta por cento de atores do grupo Tá na Rua. Amir fez a supervisão do
espetáculo “Entre becos e vielas”, dirigido por Wagner Brandi e apresentado na
comunidade do Morro da Providência.
Curiosamente
a primeira crítica teatral que tivemos logo no início da carreira foi de Amir,
quando apresentava o espetáculo “Quem tem medo de Nelson Rodrigues” (1988),
texto e direção de Neila Tavares, na Sala Vianinha (UNE). Antes da estreia fazíamos apresentações para
convidados e num desses dias ele assistiu a peça e fez a sua crítica. Para meu
alívio, ele gostou bastante da minha cena, que havia sido adaptada do romance Engraçadinha depois dos 30 – era uma
cena de estupro, portanto, bastante delicada, mas tudo saiu muito bem. Wagner fazia uma cena de O túmulo de Guida, uma cena tensa, que se passa no cemitério, e que
foi muito bem dirigida por Neila. A montagem foi considerada um dos melhores
espetáculos do ano. Em seguida virou especial para a TVE. Vinte e quatro anos
mais tarde- em comemoração ao Centenário de Nelson Rodrigues (2012)- montamos esse espetáculo com o outro título Oh, Nelson Rodrigues, que adoráveis
criaturas!, com Neila, no papel de Suazana Flag, eu como Nelson Rodrigues, a direção agora era de Wagner Brandi, que
também estava em cena como Dr. Sabino, além de ter composto dezoito músicas
originais para o espetáculo. Wagner criou o que ele chamou de concerto cênico e
compôs letras belíssimas. Éramos catorze atores em cena. Também havia cantores
e músicos. A direção musical foi de Rafael Bezerra, que transcreveu as músicas
do Wagner para partituras. Ele tocava clarineta. Os figurinos de Luís Cláudio
Julianelli. A montagem ficou em cartaz na Sala Baden Powell. Tivemos um grande
apoio do Nelsinho, filho do Nelson Rodrigues, que nos acompanhou desde a
escolha do texto e viu o espetáculo várias vezes.
Gilson Gomes,
Neila Tavares, Nelson Rodrigues Filho, Michelle Raja Gebara e Wagner Brandi
(Foto de Alexandre Rodrigues)
E nesta nova montagem, desta vez quem estava
na platéia era Simon Khoury, que gostou bastante do nosso trabalho. Essa
montagem foi com o nosso grupo Oráculo Cia de Teatro, onde Amir assistiu o seu
surgimento anos atrás e que Simon pôde ver em ação, consolidado anos
depois. Podemos dizer que este espetáculo
marcou o encontro teatral entre Amir Adad, Simon Khoury e a nossa Cia Oráculo,
sob o olhar de Nelson Rodrigues.
Gilson Gomes e Neila Tavares Ylka Maria e Wagner Brandi e Gilson
Gomes (Foto de Alexander Rodrigues)
Vamos tentar
fazer um resumo e selecionar algumas peças que achamos importantes durante essa
trajetória. Foram muitas, mas procuraremos ser bem sucintos. A estréia oficial
do grupo foi com o espetáculo O Assalto, de José Vicente no 6º
Festival Carioca de Novos Talentos, da Rioarte, em 1996. Tivemos a indicação de
Melhor ator para Gilson Gomes e de Melhor Espetáculo. A direção foi de Wagner
Brandi. Quando o pública e chegava na plateia do Teatro Glálucio Gil, já
estávamos em cena e se misturando com público. Linguagem que adotamos sempre
para os outros espetáculos. A outra técnica que usamos é passar sempre todo o
espetáculo antes das apresentações, o que muitos atores não gostam, mas
trabalhando conosco tem que ensaiar e exercitar a cena antes de cada espetáculo
, que acaba servindo como aquecimento, para a voz e para o corpo. Nas nossas
montagens quase não utilizamos cortina. Neste espetáculo acontecia um fato
engraçado, porque o Wagner bolou um pêndulo no centro do palco, que tinha que
ficar balançando de um lado para outro constantemente. Só que isso deveria ter uma maquinaria,
porém, por falta de grana, o pêndulo era movimentado por uma amiga, Marilene,
que ficaria na coxia, tudo bem durante os ensaios, No dia da apresentação ela
foi ficando empolgada e nervosa com as cenas e o pêndulo parecia que ia se
soltar de tanto que balançava. O pior é que a gente não tinha como avisar a
ela, porque estávamos em cena o tempo todo. No final deu tudo certo. Depois
rimos muito da situação. Até hoje morro de rir quando me lembro disso.
Em cena
Gilson Gomes e Wagner Brandi (Foto de Marcelo Leandro)
Depois a nossa trajetória foi marcada por
adaptações de obras literárias, o projeto se chamava A literatura sob o olhar teatral, criado pelo diretor Paulo Afonso de
Lima. Paulinho trouxe toda a sua experiência da Cia Teatro Carioca de Câmara,
onde Neila estrelava ao lado de Cláudio Gonzaga , Isoda Cresta, entre outros.
Eles fizeram muito sucesso na década de oitenta, com vários espetáculos
premiados.
Paulo Afonso
de Lima (foto do arquivo pessoal de Paulo Afonso)
Com esse
projeto de adaptações literárias, levamos para o palco montagens inéditas como:
América,
adaptação do romance de Franz Kafka
(1998). Adaptação e direção de Paulo Afonso de Lima. Wagner era o protagonista
do espetáculo no papel de Karl Rossmann. O figurino também era de Luís Cláudio
Julianelli. Um fato curioso aconteceu neste espetáculo, pois numa das
apresentações, tínhamos pouquíssima pessoas na platéia e alguns integrantes do
grupo não queriam fazer. Nós da produção insistimos na apresentação, o que foi
uma ótima opção. Justamente neste dia estava o crítico teatral Armindo Blanco,
que já faleceu, e fez uma belíssima crítica. O título da crítica era “O mago
das dificuldades”. Falava como Paulo Afonso em sua direção conseguia
magistralmente movimentar tantos atores e objetos cênicos num espaço tão
pequeno, que era o antigo Museu do Telephone. Hoje Oi Futuro. Entre outras
coisas. . Somos sempre da opinião que devemos respeitar o público, mesmo que só
tenha uma pessoa na platéia, afinal ela se programou para sair de casa e
assistir o espetáculo.
Wagner Brandi como Karl Rossmann Vinícius Sales. Mitzi Carvalho, Wagner Brandi
e Gilson Gomes (Foto de Marcello L. Corral)
O Capote, adaptação da obra de Nikolai Gogol (1999),
adaptação, cenário e direção de Paulo Afonso de Lima. Neste espetáculo eu
colaborei na adaptação e Wagner na assistência de direção e no papel de Iakme. Nessa
época ele se dividia entre São Paulo e Rio, porque estava em cartaz por lá. Fui
o protagonista do espetáculo no papel de Akaki Akakiévitch. A luz era de Eduardo Salino, os figurinos de
Luís Cláudio Julianelli, que na época havia viajado para a Rússia e trouxe
bastante informações e objetos para utilizarmos em cena.
Quando
pensamos em montar pela primeira vez este espetáculo o elenco era composto por
Neila Tavares, Gilson Gomes, Wagner Brandi e Isolda Cresta. Paulo Afonso
pretendia chamar alguns atores que trabalharam no Teatro Carioca de Câmara.
Chegamos a fazer leituras no Teatro Gláucio Gil, mas por falta de patrocínio,
acabamos não montando. Só anos mais tarde.
Neste
belíssimo espetáculo por uma questão de interpretação eu discordava do
direcionamento que Paulinho havia dado para o personagem, não concordava, por
uma questão de visão. Conversamos bastante, mas fiz exatamente como ele queria.
Tanto eu quanto Wagner em nossa proposta de Cia, sempre procuramos compreender
a visão dos diretores que estamos trabalhando, mesmo que por algum motivo
venhamos a discordar, procurando sempre entender, respeitar e seguir o
direcionamento do diretor. Somos atores leais à direção. Com este espetáculo fomos
matéria de vários jornais e capa do extinto Jornal Tribuna da Imprensa, na
coluna Tribuna Bis. A crítica de
Lionel Fischer foi boa, mas aponta alguns erros na composição de Akaki
Akakiévitch, exatamente como havia falado com Paulo Afonso. A interpretação
seguiu até o final da temporada respeitando a linha da direção. E mesmo assim
pude experimentar o estado de verdadeira catarse na cena em que o Akaki morria
nos braços da personagem interpretada por Neila, as lágrimas delas escorriam e
se espatifavam em cima de mim como se fossem bolhas de sabão.
Na foto Gilson Gomes, Wagner Brandi e Myrian Pérsia (Arquivo pessoal)
Em 2014 montamos
o espetáculo Riso Invisível, da autoria de Francisco PH. A
proposta da montagem parte da experimentação de técnicas teatrais e circenses
utilizadas no encontro de dois grupos, que se uniram para trocar experiências:
o grupo carioca Oráculo Cia de Teatro e Cia PH de Teatro e Circo, de São Paulo.
Foi escrita para Gilson
Gomes e Wandeley Gomes do Nascimento. O espetáculo era lindo, belos figurinos,
uma luz esplêndida.Em cena também estavam dois músicos cantores Emídio Rossmann
( baixo), Elizabeth Babo (mezzo-soprano), Lucio Zandonadi (piano) e Aleska
Chediak (cello). A direção musical de Cyrano Moreno Sales; A direção foi de Wagner Brandi, que também
compôs músicas originais para o espetáculo.. Também estavam em cena três O
espetáculo só fez duas temporadas, mas infelizmente não decolou.
Gilson Gomes (Foto de Leonardo Pergaminho)
Depois
fizemos uma extensa pesquisa sobre a obra de Lima Barreto e João do Rio, isso
durou quase quatorze anos, parávamos e retomávamos o estudo que resultou no
texto Diários marginais: um encontro com Lima Barreto e João do Rio (2015),
texto de Gilson Gomes e Wagner Brandi, a direção foi de Luiz Furlanetto. Essa
montagem teve um grande incentivo da nossa querida Bibi Ferreira. O espetáculo
esteve na FLIP, quando homenageou o escritor Lima Barreto, numa programação
paralela. Ficamos bastante receoso do espetáculo não agradar aos especialistas
dos autores, que obviamente estavam em peso na Flip, mas para a nossa
felicidade, eles gostaram muito do que viram. Vieram nos cumprimentar pela
ousadia e pelo belo roteiro sobre o encontro dos dois que em vida jamais haviam
se encontrado, mesmo vivendo na mesma época. O curioso é que até então ninguém
havia pensado nesse encontro fictício. Para nossa surpresa e alegria tínhamos
na platéia a crítica teatral Tânia Brandão. Durante a montagem recebemos um
convite do diretor cinematográfico Oswaldo Lioi para fazer um longa metragem do
espetáculo.
Na foto Gilson Gomes e Wagner Brandi (foto de Leonardo
Pergaminho)
Durante a trajetória da Cia, fomos convidados a participar de outros trabalhos, mas sempre mantendo o trabalho de pesquisa do grupo. Dentre tantos outros trabalhos fora do grupo, gostaria de registrar que tivemos a honra de nos apresentarmos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com o espetáculo O Pequeno Príncipe, pois acredito que deve ser o um sonho para muitos atores, pisar naquele palco sagrado e com tantas histórias incríveis e artistas importantes que passaram por lá! No elenco estava a querida amiga e saudosa Elke Maravilha; ainda tinha o extraordinário ator Paulo César Peréio. Esse convite para participarmos da montagem veio através de Neila Tavares, que estava responsável pelo elenco. Eu interpretava o Geógrafo, Wagner o Matemático (Contador), Peréio o Rei, e a Elke estava deslumbrante como a Raposa. Eu fiz questão de indicar a Elke e de fazer campanha para ela ficar no papel, pois haviam outras possibilidades de atrizes, mas ela definitivamente era a mais apropriada. Quando ela entrava em cena com o seu próprio figurino, pois nem precisou usar do acervo do Municipal, era estarrecedor. O elenco era bem grande e cheio de artistas talentosos. Em cena tinha a orquestra sinfônica, bailarinas mirins e o coro, todos do Teatro Municipal. Um luxo só. Fizemos duas temporadas. Depois Gilson Gomes, fez a terceira temporada, por motivos de compromissos Wagner Brandi, não pode fazer
Na foto
Wagner Brandi e Gilson Gomes ao lado de Elke Maravilha (Arquivo pessoal)
Também
tivemos um hiato do nosso trabalho, porque as coisas ficaram um tanto
complicadas em relação à grana e tivemos que dar um tempo e fomos trabalhar em
empresas ligadas à cultura. Uma questão de sobrevivência mesmo. Embora, sempre
procuramos manter o trabalho de pesquisa e leituras de textos no sentido de uma
próxima montagem. Sem falar de algumas decepções de alguns integrantes do
grupo, que saíram sem ao menos nos avisar, justamente no momento em que fomos
convidados para alguns festivais nacionais e internacionais. Foi uma grande
decepção mesmo. Hoje optamos do núcleo ser apenas de dois atores e à medida que
haja necessidade de outros atores, nós convidamos. Depois de tantos anos
trabalhando juntos pudemos compreender melhor o ritmo do outro, existe uma
grande sintonia em nossos trabalhos, mesmo havendo divergências em muitos pontos de vista, como toda em parceria, mas o
essencial está lá, que é o amor e a
dedicação pelo trabalho. Aprendemos a dividir a representação um com o outro,
num trabalho coeso e perene, sempre na direção da coletividade e com muita
cumplicidade, o que vem dando bastante certo. Somos companheiros de batalha,
defendemos um ao outro de qualquer tipo de intrigas. É uma amizade sólida e
duradoura. Estudamos na Escola de Teatro Martins Pena, de turmas diferentes, mas
já nos conhecíamos antes disso. Falando na escola, uma das passagens mais
marcantes e hilária foi durante uma aula com Carlos Kroeber. Ele era professor
junto com a Mona Lazar. Uma colega não conseguia por nada encontrar a
personagem, estava totalmente aflita por não consegui sentir nada. Carlão então
pede para ela caminhar no palco e começa a andar atrás dela com um pedaço de
madeira. Num dado momento pede para ela se virar, e para surpresa e susto da
atriz ele finge que vai dar uma paulada nela, que solta um grito e sai correndo
apavorada do palco. Todos riram bastante. Depois daquele dia ela passou a
sentir todas as emoções da personagem. Quando Wagner fez o reste para a escola,
assim que terminou, Carlão pegou ele pelo braço e disse: “Fique calmo, porque
eu gostei muito do seu teste.” Ele era uma figura muito divertida e de uma
cultura incrível. Adorava ouvi-lo falar com aquela voz potente e aquele olhar brilhante.
Naquela época nem poderia imaginar que um dia iria conhecê-lo. Só conhecia você
só por nome e pelo seu trabalho de entrevistas. Portanto não posso deixar de
registrar o trabalho que realizei ao seu lado durante alguns anos no trabalho
de pesquisa para alguns livros Bastidores,
foi um período de muito aprendizado com você e sou muito grato, pois ao seu
lado pude conhecer artistas incríveis, que só conhecia na televisão, no cinema
e no teatro. Tive o prazer de conhecer Tony Ramos, Raul Cortez, Eva Todor,
Vanda Lacerda, Nicette Bruno, Tônia Carrero e vários atores geniais. Sem falar
de participar do jantar oferecido pelo Paulo Autran, que ele mesmo fez, senão
me engano era um bobó, que estava divino. Naquele dia tinha a presença de
tantos atores extraordinários, que parecia até um filme repleto de estrelas!
Inesquecível.
Tivemos
alguns encontros com o escritor Doc Comparato para estudarmos a possibilidade
de montarmos um de seus textos, mas não definimos o texto. Fizemos musicais
infantis e espetáculos adultos, nos apresentamos em escolas, Vilas Olímpicas,
comunidades e nos mais diversos lugares possíveis. Dentro desses trabalhos tive
a honra e a oportunidade de trabalhar durante anos com a nossa querida e grande
atriz Bibi Ferreira. Era um trabalho na área jornalística, ligado a pesquisa e
a organização do acervo dela. Foi um convívio diário no qual tive o prazer de
conviver em sua casa, pois todo o seu acervo fica numa biblioteca. Um material
que contava sua história desde que surgiu em cena pela primeira vez. Isso só
com alguns meses de idade. Wagner também trabalhou com ela no centenário de
Procópio Ferreira, pai de Bibi, na montagem Deus lhe Pague. Além de ator,
também trabalhava como assistente de direção dela e de Paulo Afonso de Lima. No
elenco tinha Bemvindo Siqueira, Lucélia Santos e grande elenco. Tive a honra de estar em cena com Bibi na
leitura do espetáculo do texto de Juca de Oliveira As favas com o escrúpulo, atendendo ao seu convite. Ainda tinha no
elenco o próprio Juca de Oliveira, que havia acabado de escrever a peça naquele
momento, Neusa Borges, Tina ferreira e Mayana Neiva. Aprendemos muito com ela Simon, foram muitos
anos de convivência, só o Beethoven, o gatinho que ela nos deu de presente, já
vai fazer dezenove anos. Quase todos os dias falamos com Neyde Galassi, sua
grande amiga e companheira de todos os momentos, sobre o Beethoven. Quando estivemos
em cartaz no Teatro Municipal encontramos na galeria dos grandes atores,
próximo aos camarins, a foto dela no papel de O Noviço, de Martins Pena. Era interessante que quando estreávamos
um espetáculo e assim que passava um tempo, Bbi já perguntava: “Já estão
pensando no próximo espetáculo?” Estava sempre num movimento constante. E dizia
que quando o ator estivesse em cena, deveria agir como o motor do automóvel, quando
o carro parar no sinal, não deve desligar nunca”. Ela era incrível. Acredito
que tudo que sabemos de teatro foi ela que nos ensinou nessa convivência.
Também aprendemos muito com Paulo Afonso de Lima e Neila Tavares, que trouxeram
toda a técnica e a carpintaria teatral do Teatro Carioca de Câmara.
Na foto
Wagner Brandi, Bibi Ferreira e Gilson Gomes (Arquivo pessoal)
A nossa
montagem mais recente foi Torturas de um coração (2018), de
Ariano Suassuna, com direção de Wagner Brandi, circulamos por vários
equipamentos culturais e também nos apresentamos em Minas Gerais. Esse texto
chegou as nossas mãos por indicação do diretor cinematográfico Ipojuca Pontes,
que havia sido amigo de Suassuna. Aceitamos o desafio e montamos o espetáculo. O
espetáculo foi escrito para bonecos mamulengos, mas optamos fazer com atores.
Éramos cinco em cena onde cantávamos, dançávamos e fazíamos toda a percussão do
espetáculo ao vivo, Em cena éramos Gilson Gomes (Benedito), Alisson Minas
(Vicentão), Thiago Prado (Cabo Setenta), Thamás Morelli e Willian Freitas(revezavam
no papel de Afonso Gostoso) e Wagner Brandi (Marieta), O elenco acabou sendo
quase todo formado por ex-alunos da Escola de Teatro Martins Pena, que nos
apoiou com o espaço para ensaio. É preciso contar que abrimos testes e várias
atrizes fizeram teste, mais ou menos umas nove, mas nenhuma ficou, pois não
conseguiram encaixar com a personagem, Anteriormente tínhamos tido a idéia de
fazer o espetáculo só de homens, mas depois desistimos. Portanto, em função
dessa demora de achar a atriz e a data da estréia chegando, imediatamente
retomamos a idéia do Wagner fazer o papel de Marieta. Eu resisti um pouco,
porque tinha lido críticas de atores fazendo este papel e não tinham se saído
bem, mas depois abracei a ideia. Ainda bem, porque ele deu um show. Durante os
testes alguns atores não ficaram porque acharam o texto preconceituoso e
violento. Só que não se atentaram que o texto foi escrito para bonecos
mamulengos, uma total falta de conhecimento, e que este tipo de espetáculo é
recheado de ações violentas entre os bonecos. Sem falar que levar esses temas à
cena traria o debate para uma reflexão dos problemas sociais que existem até hoje.
Wagner foi bastante cuidadoso e conversamos muito de como colocar isto tudo em
cena sem ser tão agressivo e buscamos inspiração nas comédias de Charles
Chaplin, Os Três Patetas e O Gordo e O Magro, Um achado. Acredito que por isso
era um espetáculo que agradava toda a família, principalmente as crianças. Foi
uma montagem bastante divertida onde eu interpretava o personagem Benedito e
Wagner no papel de Marieta. As crianças quando assistiam adoravam, tanto que
depois também passamos a fazer no horário infantil, e foi incrível. Pela
primeira vez experimentando o prazer de ter o Teatro lotado e a produção ter
que pedir para o público voltar outro dia. Foi incrível. A direção musical era
de Cyrano Moreno Sales, figurino de Simone Aquino, cenário de Oswaldo Lioi e
Ianara Elisa, projeção de imagens Mayara Ferreira, a luz de Wagner Brandi e
J.K. E Wagner compôs músicas lindas para
o espetáculo. Mais uma vez tivemos o privilégio da presença de Tânia Brandão na
platéia, uma grande honra, e como disse Tereza Rachel em sua biografia -
escrita por você -, que ela é a crítica teatral mais importante do teatro
brasileiro. Tivemos jurados de prêmios e boa crítica. Encerramos com chave de
ouro com temporada no Teatro Laura Alvim.
Na foto Thiago Prado, Wagner Brandi, Alisson Minas, Gilson Gomes e Thamás Morelli Gilson Gomes e Wagner Brandi.
Fotos de
Ianara Elisa
A montagem Diários
faz parte de uma trilogia, pois temos mais dois espetáculos já na
agulha para montarmos no projeto Diários.
Queremos ter a visão da montagem dos
três Diários em conjunto e perceber o jogo da composição das três peças. A
maioria destes espetáculos foi feitos sem patrocínios, na garra mesmo. Uma vez
Amir numa palestra disse: “A esperança não é a última que morre. O último que
morre é o ator. Porque o ator é capaz de se reinventar , é capaz de superar
qualquer tipo de crise e sobreviver com a sua arte”. Numa das apresentações de
Fernanda Montenegro, ela comentou com a plateia que o teatro jamais acabaria,
porque sempre em algum lugar jovens estariam criando um grupo teatral, e o
teatro estaria sempre vivo. Não foi com essas palavras, mas algo parecido. E é
a pura verdade. Podem criar todos os tipos de tecnologia, mas o teatro jamais
deixará de existir. Falando em
tecnologia, é preciso registrar que a nossa foto mais curtida nas redes sociais
é ao lado de Fernanda Montenegro. Tiramos na coxia, logo após ao término do
espetáculo Nelson
Rodrigues por Ele Mesmo.
Ela nos revelou que você consegue extrair respostas inusitadas dos
entrevistados, que eles se surpreendem ao responder. Foi lindo aqueles momentos
de bate-papo. Que ser-humano, doce, gentil e iluminada. A sua produtora Carmem
Melo também é de uma gentileza e simpatia incrível. O curioso é que no dia
seguinte nos encontramos no aniversário de Amir Hadad, na sede do Tá na Rua. Foi incrível!
Na foto
Wagner Brandi, Fernanda Montenegro e Gilson Gomes (Arquivo pessoal)
Simon, temos
muita gratidão por esse espaço e pela honra de fazer parte dos seletos atores
que você tem como amigo. É muito bom ter um espaço para nossa Oráculo Cia de
Teatro (OCT), que mantemos com muita garra, amor e resistência durante esse
tempo todo. É importante mostrar os trabalhos dos grupos e você marca mais um
golasso, pois no Rio existem várias Companhias teatrais, que desenvolvem um
trabalho importantíssimo no teatro e no circo, não só no Rio, mas no Brasil.
Companhias com trabalhos belíssimos e bastante ricos em seus repertórios, e de
linguagens próprias. Simon, é muito importante, dar voz a esses artistas que
acreditam num trabalho de equipe, de coesão, na beleza da unidade de um time e
que bom que você é esse guardião da memória teatral. Sentimos-nos
verdadeiramente honrados e presenteados. Ainda mais um convite vindo de um excepcional
ator, pois a grande maioria dos atores entrevistados por você, sempre dizem o
quanto você é um ator portentoso, extraordinário mesmo, jornalista e
pesquisador que há décadas vem realizando um trabalho tão importante para a
cultura brasileira, só nos estimula a continuar a luta, o respeito e a
dedicação pelo teatro.
Na foto
Gilson Gomes, Simon Khoury e Wagner Brandi (Arquivo pessoal)
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